Por que o hidrogênio verde é considerado o combustível do futuro?

Marcus Silva Gerente Geral da Air Products Brasil e Argentina

Marcus Silva, Gerente Geral da Air Products Brasil e Argentina Air Products Brasil

Escreve Marcus Silva*

Devido ao aquecimento global, muitos eventos como o aumento anormal de temperaturas e a chegada antecipada do verão em mais de um mês, que vêm acontecendo na Europa, bem como outros efeitos climáticos extremos preocupantes, têm chamado a atenção das autoridades. Desta forma, a redução da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera tem sido considerada urgente e, por isso, muitos países e empresas vêm investindo na mudança de matriz energética nos setores de energia, indústria e mobilidade.

No setor de transportes, carros elétricos ou movidos a hidrogênio não são mais uma projeção para um futuro distante. Diversos países já apresentam opções de veículos adaptados a essas alternativas e o avanço delas deve torná-los cada vez mais acessíveis ao grande público.

Muitas indústrias também têm se comprometido com novos projetos para operar de forma limpa e sustentável e já vêm utilizando o hidrogênio em grande escala como fonte energética.

O que muitos ainda não sabem sobre o hidrogênio é que essa fonte de energia pode ser categorizada de três maneiras principais (há outras menos comuns), dependendo do seu processo de produção: cinza, azul e verde. O mais utilizado pelas indústrias ainda é o cinza, produzido a partir da reforma do gás natural com vapor, com liberação de dióxido de carbono, o que contribui para o aquecimento global. Já o hidrogênio azul acrescenta a captura, sequestro e armazenamento deste dióxido de carbono, sendo, portanto, um combustível de transição por reduzir em pelo menos 90% as emissões de dióxido de carbono do hidrogênio cinza.

O estágio digamos mais “avançado” nessa corrida energética é o hidrogênio verde, produzido a partir da eletrólise da água com energia limpa como, por exemplo, a solar, a hidrelétrica, a eólica ou uma combinação de todas essas, o que gera um impacto ambiental ainda menor. O hidrogênio verde, ao ser transformado em energia pela combustão, não emite gases de efeito estufa, gerando apenas vapor d´água.

Atualmente, apesar dos seus benefícios, a fabricação do hidrogênio verde demanda mais investimentos que a do azul. Entretanto, pesquisas recentes apontam que este custo está em queda e que o verde poderá se tornar a opção mais econômica até 2030. É o que diz o estudo da consultoria McKinsey and Company, que contou com a participação da Air Products, multinacional, com mais de 60 anos de experiência na produção e distribuição de hidrogênio a partir de gás natural, por gaseificação de biomassa ou por eletrólise.

No caso do Brasil, alguns passos ainda serão necessários para construir essa economia totalmente verde. Um dos desafios, por exemplo, será transmitir confiança aos investidores que tenham interesse na área por meio de segurança fiscal, regulatória e institucional, para que se sintam confortáveis em investir no país. Ainda assim, as expectativas continuam grandes em relação à produção de hidrogênio verde e bastam ajustes em questões regulatórias e econômicas para seu avanço.

Ressalto que projetos diversos podem ser desenvolvidos no nosso país, que é abundante em recursos limpos para geração de energia necessária para a produção do hidrogênio verde. Temos uma matriz energética 83,7% renovável que desempenhará um papel-chave nessa iniciativa mundial de descarbonizar o planeta nas próximas décadas. Acreditamos muito no potencial do Brasil como um dos líderes mundiais na produção desse combustível e destaco que as tecnologias já existentes de captura e sequestro de carbono são fundamentais para complementar nosso salto rumo a um ecossistema mais sustentável.

*Marcus Silva é Gerente Geral da Air Products Brasil e Argentina, empresa que tem 250 projetos de estações de abastecimento de hidrogênio, em 20 países, e executa no momento dois dos maiores projetos de hidrogênio verde no mundo, sendo um deles na Arábia Saudita.

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